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ARMANDO DAL COLLETTO
ARMANDO DAL COLLETTO
Colaboração para a Folha Online
Atualização profissional, no passado, já foi disciplina optativa. Há algumas décadas, quem se graduava em curso superior considerava que a fase de estudos estava concluída e que, daí em diante, teria início a fase do trabalho e da experiência. Havia ainda, inclusive, aqueles que pulavam parte do estudo e imergiam direto no mundo profissional, sem uma formação específica.
Os profissionais não tinham prazo de validade determinado. Ninguém ousava perguntar a um médico ou a um engenheiro se ele tinha feito cursos de atualização profissional visando aprimorar seus conhecimentos. A velocidade da ciência e da pesquisa era baixa em comparação aos dias de hoje e não havia tanta pressa em se atualizar.
As oportunidades eram diferentes e o conhecimento adquirido durava mais. Mas este panorama mudou muito desde então.
A velocidade das mudanças, a famosa globalização e o desenvolvimento tecnológico transformam incessantemente o ambiente de trabalho, de forma que hoje não há dúvidas de que "estudo" e "formação" não são apenas uma etapa da vida, mas uma constante ao longo de toda a carreira.
Assim, a atualização profissional deixou de ser uma opção para ser também uma condição e uma necessidade dentro do exercício da profissão. Isso se manifesta tanto como iniciativa de aperfeiçoamento do currículo dentro de um ambiente cada vez mais concorrido quanto por exigência natural do mercado, onde a todo instante se vêem antigos meios e conceitos sendo aperfeiçoados ou superados.
Os profissionais que atuam há 20 anos na área de tecnologia, por exemplo, iniciaram a carreira transitando entre gigantescos mainframes, que tinham capacidade menor que qualquer notebook atual e usavam sistemas operacionais, linguagens de programação e banco de dados, hoje totalmente obsoletos. Atualmente lidam com conceitos como Grid Computing, Redes sem Fio, Etiquetas RFID, Datawharehouse e outras inúmeras siglas desse jargão que nem de perto foram ensinadas em seus cursos de graduação.
Com maior ou menor intensidade, esse fenômeno pode ser percebido em todas as áreas, o que torna inevitável que o profissional não interrompa nunca sua formação se quiser manter sua empregabilidade.
Ele deve estar atento às novidades e às oportunidades de aplicação de sua experiência e competência e entender claramente quais são as competências valorizadas na área em que atua. Vê-se então a necessidade de procurar um processo rápido, eficaz e específico para aquisição dos conhecimentos que quer aprofundar ou adquirir. É a isso que vão de encontro direto os programas de atualização profissional.
São cursos de curta duração que se prestam a aplicar algum conceito recente e pontual que profissionais já atuantes não tiveram a oportunidade de aprender anteriormente ou conceitos que, de tão específicos, encontram nesse formato de curso a sua melhor forma de ensino e aplicação, pois já são voltados especialmente para aqueles que necessitam e procuram por eles.
Esse mecanismo, no entanto, é uma via de mão dupla. Ao mesmo tempo em que os profissionais devem estar antenados às novas demandas de sua área, as instituições de ensino devem fazer o mesmo: perceber o que está mudando no mercado para estruturar seus cursos de acordo com o cenário em que está inserida.
Desta maneira, as próprias instituições, ao se preocuparem em oferecer cursos de extensão e aprimoramento educacional, ajudam a acabar com os resquícios do velho estigma que deve e está sendo combatido: o de que o estudo acaba na escola.
O profissional, agora, entende que sua atualização é uma disciplina obrigatória e seu conteúdo dependerá de seus objetivos de desenvolvimento de carreira, das oportunidades de mercado e da sua auto-realização.
Lembrando-se sempre de Paulo Freire, que diz em uma de suas obras:
"Mulheres e homens, somos os únicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de aprender. Por isso, somos os únicos em quem aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito".
Armando Dal Colletto, engenheiro metalurgista formado pela Escola Politécnica/USP e MBA pela Fundação Getúlio Vargas, é professor universitário desde 1973 e atualmente ocupa o cargo de diretor de planejamento da Fasp (Faculdades Associadas de São Paulo). Contato pelo e-mail: dalcolletto@fasp.br.
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