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Mestre Sabal (Foto: Ivan Masafet) |
Grupo do Marimbondo surgiu em 1805 e se mantém
Cantores e dançarinos percorrem as ruas das cidades, de porta em porta, anunciando a chegada do ‘Messias’, pedindo prendas e fazendo louvações aos donos das casas por onde passam em comemoração ao nascimento do menino Jesus. Dessa forma surgiu o Reisado, em especial na região nordestina.
Já Sergipe guarda em sua história e tradição muito das culturas portuguesa e negra e um dos mais ricos folclores do Brasil. Dentre as inúmeras manifestações culturais presentes no Estado, o Reisado pode ser destacado ainda nos tempos atuais, pois é apresentado em qualquer época do ano e não apenas nas festas de Natal e Reis.
Reisado Marimbondo
No povoado Marimbondo, no município de Pirambu, com 205 anos, o ‘Reisado do Marimbondo’, resiste às dificuldades e continua afinado com sua batida forte de gerações. “A cada ano que se passa, brincamos menos o Reisado, mas ainda vamos resistindo e vencendo as dificuldades”, diz Antônio dos Santos, conhecido como mestre Sabal, mestre do Reisado.
Mestre Sabal, que é pescador e comanda o grupo, que é referência no povoado, conta que o reisado do Marimbondo é um dos mais antigos da região . “Esse Reisado é de 1805 e até hoje dançamos do mesmo jeito que antigamente, com a mesma vontade e alegria”, descreve.
Sabal ainda relembra que o Reisado surgiu na sua vida desde menino, quando acompanhava a sua mãe dona Ismênia. “Com 15 anos assumi o Reisado, mesmo sem a confiança da minha mãe, porque ela achava que eu não iria dar conta, mas agora estou aqui até hoje”, relembra o sorridente pescador.
Herança
Para dona Ismênia o mais importante é que o Reisado é uma herança de família, que passa de geração para geração. “Comecei a levar esse meu filho para brincar o reisado, quando ele tinha 15 anos de idade. E ele pegou jeito, agora vejo meus netos aprendendo e participando. É de família” explica Ismênia, que ainda hoje puxa as músicas durante as apresentações.
O mestre do Reisado de Marimbodo tem oito filhos e todos fazem parte do folguedo. José Alberto dos Santos, o Beto de Sabal, é responsável pelos toques e melodias da sanfona. “Eu aprendi mesmo a tocar no Reisado, só vendo como se fazia, mas lembro que meu pai me batia com um cipó para eu não dormir durante as apresentações, que duravam a noite toda”, sorri Beto Sabal, relembrando ainda que quando aprendeu a tocar sanfona tinha cerca de cinco anos de idade.
Beto de Sabal ainda tocou o acordeon com o grupo Casaca de Couro, onde segundo ele a experiência ajudou a melhorar a técnica. “Eu já sabia tocar, mas com o grupo aprendi as notas e fui aperfeiçoando o trabalho para apresentar o nosso Reisado” explica, orgulhoso da herança familiar.
Valorização
Mesmo tocando em família, Sabal diz que sente saudade dos tempos passados, pois o trabalho parecia ser mais valorizado. “Antigamente a gente tocava toda semana durante o ano todo, hoje tocamos uma ou duas vezes ao ano”, comenta, com tristeza.
Para Sabal, a falta de valorização da cultura popular pode acabar com o que resta do reisado em Sergipe. “Se fala tanto em valorizar a cultura, mas vejo que não tem valorização não. As apresentações que antes duravam horas hoje é de 20 minutos. Não temos tempo de mostrar toda a brincadeira”, lamenta.